Uso de DeFi no Brasil sofre queda no último ano e players do mercado avaliam as causas

O uso das finanças descentralizadas (DeFi) no Brasil exibiu um recuo entre 2022 e 2023, apontam dados do relatório “Geografia das Criptomoedas”, publicado pela empresa de inteligência Chainalysis, publicado em 23 de outubro. 

Na edição de 2022, a maior economia da América Latina ocupava a 8ª posição no quesito “Valores recebidos em DeFi”, e a 7ª posição no quesito “Valores recebidos pelo varejo em DeFi”. Em 2023, o Brasil passou a ocupar a 11ª posição em ambos os quesitos. Além disso, as plataformas centralizadas são utilizadas por 60,7% dos brasileiros para a negociação de criptoativos. A média global de uso é 48,1%.

A mudança na preferência dos brasileiros vista no último ano está ligada à experiência do usuário oferecida nas plataformas centralizadas, avalia Guto Antunes, Head de Digital Assets do Itaú.

“O usuário que entra nesse mercado observa a jornada do produto, que envolve questões como ‘onde eu entro?’, ‘qual botão eu aperto?’, ‘como eu transfiro meu dinheiro para essa plataforma para conseguir negociar?’. Tudo isso é observado pelo cliente”, explica Antunes. “E é um consenso no mercado cripto de que a jornada em DeFi é difícil”, completa.


Enquanto as plataformas centralizadas apresentam interfaces que se assemelham àquelas do mercado financeiro tradicional, como o Pix, o ecossistema DeFi apresenta novos desafios para usuários, afirma Antunes.

“O que DeFi precisa é uma experiência simples desse jeito. Se você não tiver que apertar dez botões, copiar sua carteira, mandar para alguém e ficar com medo enquanto espera cair o dinheiro, é natural que existam mais pessoas ávidas por essas plataformas, principalmente porque elas oferecem tokens diferenciados”, diz o Head de Digital Assets do Itaú.

Mesmo com a queda no uso de aplicações descentralizadas por brasileiros no último ano, a Chainalysis aponta em seu relatório que o Brasil continua abraçando DeFi e outras plataformas inovadoras de criptoativos.

Guilherme Bettanin, CEO e cofundador da exchange descentralizada (DEX) de contratos perpétuos Zaros, destaca que a queda na utilização de DeFi por brasileiros pode estar ligada a uma possível falta momentânea de interesse em conhecer outras aplicações. Nesse ponto, Bettanin acredita que o desinteresse não atinge apenas o Brasil.

“Usar uma DEX de futuros, opções, empréstimos ou outros tipos de protocolos descentralizado que exijam maior conhecimento técnico de operações do mercado financeiro tradicional está um pouco além do interesse da comunidade”, destaca o cofundador da Zaros. 

Outro possível causa para o recuo no uso de DeFi no Brasil está ligada ao ciclo prolongado de baixa, afirma Bettanin. Ele explica que, durante períodos onde o volume de capital no mercado é menor, os investidores têm menos interesse em aplicações descentralizadas que ofereçam operações que exijam mais conhecimento técnico.

Além disso, Bettanin destaca também as dificuldades em dar aos usuários uma experiência mais simples. Essa lacuna, acrescenta, afeta especialmente o público conservador, afastando esses investidores dos protocolos descentralizados. 

“Há uma desconfiança sobre tudo que que peça para conectar uma MetaMask ou que dê custódia própria, sem a ‘garantia’ de uma organização como um banco ou uma exchange centralizada”, afirma o cofundador da Zaros. 

Bettanin salienta, porém, que mudanças técnicas previstas para as principais infraestruturas em DeFi podem melhorar a experiência do usuário em breve, levando mais investidores ao ecossistema descentralizado.

“Acredito que, com a melhoria na experiência de usuário por meio de account abstraction nas DEX, que traz uma experiência de exchange centralizada ou até mesmo de banco digital para o ambiente descentralizado, como estamos fazendo na Zaros, a utilização desses protocolos será cada vez maior no Brasil, devido à superioridade em vários aspectos como segurança, transparência, custo de taxas, precificação de ativos, custódia e acesso democrático”, conclui o cofundador da Zaros.